Após percorrer mais de dois mil quilômetros para buscar o irmão com transtornos mentais para internação psiquiátrica, Josenito Souza, conhecido como Mi, teve experiências tristes em Conceição do Coité, mudando a rota do destino do irmão, Joselito Souza, 59 anos, o Litinho.
Mi e Litinho
Durante uma conversa com a jornalista Rafaela Rodrigues, Mi afirmou que não tinha ideia de que o estado de saúde de Litinho era tão crítico, mesmo sendo comunicado por profissionais do município e familiares.
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“No dia em que eu e minha esposa chegamos, já enfrentamos dificuldades para encontrá-lo. Pouco tempo depois, Litinho foi localizado em uma estrada. Ficamos chocados, mas também felizes por estar perto e lutar para cuidar dele”, disse Mi.
Reencontro após ser encontrado na Ba-120
Mi e a esposa queriam reunir toda documentação para transferência de Estado, mas a maior preocupação era a logística de deslocamento por conta da instabilidade de Litinho.
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“O nosso carro seguiu para Coité com o objetivo de levá-lo a Santos, mas o estado em que se encontrava poderia comprometer a vida da nossa família durante a viagem. Imagina se ele surta e puxa o volante durante o percurso? Seria tragédia”, explica.
Com esse obstáculo, a secretaria de Saúde e Assistência Social orientaram os parentes de Litinho a levarem o parente para uma cidade próxima a Coité.
Ao chegar ao Hospital Especializado Lopes Rodrigues, em Feira de Santana, Litinho foi avaliado por um psiquiatra, que concluiu que ele não poderia ficar no local devido a problemas clínicos.
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Veja o que diz uma parte do relatório enviado pelo Hospital Lopes Rodrigues:
“DURANTE A OBSERVAÇÃO FOI EVIDENCIADO PRESENÇA DE TOSSE PRODUTIVA PERSISTENTE E UMA FERIDA INFECTADA EM PANTURRILHA ESQUERDA DECORRENTE DE QUEIMADURA, SEM SINAIS DE CUIDADOS PRÉVIOS. O PACIENTE APRESENTA ESTABILIZAÇÃO DO QUADRO PSIQUIÁTRICO APÓS O USO DAS MEDICAÇÕES, INCLUINDO REDUÇÃO DA AGITAÇÃO E MELHORA DO COMPORTAMENTO INICIAL, CONTUDO, PERSISTEM QUEIXAS CLINICAS COMO TOSSE PRODUTIVA E A FERIDA INFECTADA, QUE REQUEREM AVALIAÇÃO E MANEJO ESPECIALIZADOS. ESTE HOSPITAL PSIQUIÁTRICO NÃO DISPÕE DE RECURSOS ADEQUADOS PARA O MANEJO CLÍNICO DE EXAMES CONDIÇÕES GERAIS, E O PACIENTE NECESSITA DE AVALIAÇÃO CLÍNICA E COMPLEMENTARES PARA INVESTIGAÇÃO”
O caos na madrugada.
Ele permaneceu sob observação por conta das medicações, mas, quando o efeito do medicamento foi diminuindo, ele surtou e tentou danificar as instalações da unidade hospitalar.
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A equipe do hospital teve que amarrá-lo por conta da violência. Foi uma madrugada bastante difícil e repleta de incertezas.
O retorno.
Segundo Mi, os poucos mais de 100 quilômetros percorridos até Coité foram tranquilos, já que Litinho estava sob efeito de remédios.
Ao retornar à cidade, a ideia de Mi era levar o irmão imediatamente ao hospital para tratar as lesões, mas uma notícia lamentável tomou conta da família.
Morte da mãe!
Dona IVA, mãe de Litinho, morreu em um hospital de Salvador após dias internada.
A atenção foi direcionada aos trâmites da cerimônia fúnebre de mainha, mas estavamos atentos ao caso de Litinho”, contou.
No dia seguinte, após a morte da mãe, Mi e a esposa retomaram a batalha para tratar o irmão e conseguiram reverter o surto e fornecer os remédios psíquicos de forma adequada.
Recalculou a rota!
Com a vida pessoal e profissional no litoral de São Paulo, a corrida contra o tempo de Mi era para o irmão ficar bem das lesões, mas, com o tratamento a longo prazo e a necessidade de retornar para São Paulo, acabou adiando a ida de Litinho.
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“O médico disse claramente que nenhum hospital psiquiátrico receberia Litinho com essas lesões. Além disso, também informamos na clínica de São Paulo que teve a mesma decisão: tratar e depois levá-lo, se necessário.”
Compromisso da administração municipal.
As secretarias de Saúde, Assistência Social e o prefeito Marcelo Araújo acompanharam de perto a situação de Litinho, fornecendo todo o suporte necessário.
Marcelo concedeu o auxílio-doença de caráter emergencial de R$ 3000 + R$ 730 para a possivel viagem.
A população também contribuiu, mas, os valores não foram divulgados.
Com a viagem cancelada, todo dinheiro arrecadado estará sendo utilizado no tratamento de Litinho, que atualmente apresenta melhoras.
“Agradeço profundamente à população pelo apoio, bem como à secretária de Saúde, Adriana Mota, e à secretária de Assistência Social, Vanusa. Foram extremamente eficazes nesse suporte. O prefeito Marcelo, que foi generoso com toda a situação do meu irmão e, a todo o momento, contribuiu para que ele ficasse bem”, falou Mi.
O que diz o CAPS?
A coordenadora do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), Simone Ferreira, disse que Litinho está registrado no órgão desde 2013.
“Ele faz uso das medicações porém, utiliza substâncias psicoativas, ocasiando efeitos indesejados”, explicou Simone.
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No período em que Mi e a esposa estavam na cidade. o CAPS solicitou ao Ministério Público a internação compulsória.
“O município fez tudo que estava ao alcance, mas agora depende exclusivamente da família, pois, caso tenham os cuidados necessários, o MP pode intervir nesse caso, ao colocar a sociedade em risco”, relatou Simone.
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Ela confirma que o homem não pode se deslocar para São Paulo devido às condições clínicas.
A familia contou que Simone esteve disponível, inclusive fora do horário administrativo, para ajudar a resolver o problema.
Quando questionada se Litinho estaria tomando os remédios, ela responde:
“Sim! Litinho esteve no CAPS esta semana e, apesar de estar um pouco agitado, tomou os medicamentos.
Deixamos o “terreno” arrumado.
Nos últimos dias, é possível notar que pouco se tem notícia de Litinho com atitudes incoerentes devido ao problema.
Isso se deve ao fato de que a família se reuniu e Litinho está fazendo uso dos medicamentos e sendo acompanhado pelos familiares.
Chegamos a um consenso de que todos ficariam sob vigilância em Litinho, pois a situação estava preocupante, disse Mi.
O rapaz tem se alimentado de forma correta e chegou a participar da confraternização de virada de ano da família, ficando totalmente tranquilo.
“Realizei o meu papel em conjunto com minha esposa. Foram dias difíceis. Apesar de não poder levá-lo devido aos ferimentos, saio tranquilo de que Litinho está melhor do que no início. É possível que ele seja internado nos próximos meses. Tudo vai depender dos próximos dias” finaliza.
Por Rafaela Rodrigues