Quem já se deparou com Joelson de Oliveira da Silva, 36 anos, conhecido como Kainha, provavelmente viu cenas do rapaz pulando, gritando e até se agredindo de forma involuntária.
O homem é natural de Conceição do Coité, povoado do Sossego, região sisaleira, e pode apresentar a síndrome de Tourette, um distúrbio do sistema nervoso que envolve movimentos repetitivos ou sons indesejados.
Em uma conversa com a jornalista Rafaela Rodrigues, Kainha disse que teve uma infância normal até os dez anos, quando percebeu os primeiros sinais.
“Eu ficava muito nervoso e dando esses pulos, mas minha mãe achava que era um problema espiritual e me levou a um sacerdote para fazer um ritual, mas não resolveu”, contou.
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Ele foi encaminhado ao psiquiatra, que prescreveu remédios para diminuir a agitação. O tratamento prosseguiu pelo CAPS de Coité, mas os movimentos involuntários continuaram.
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Kainha foi instruído a procurar um neurologista, mas até hoje não se dirigiu ao especialista.
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A jornalista Rafaela Rodrigues procurou o neurologista Wendel anastassioy para explicar a situação de Kainha, apresentando vídeos que mostram as ações do rapaz.
Wendel
O médico disse ser possível que Kainha tenha a Síndrome de Tourette e explicou como é feito o diagnóstico.
“ É realizado de forma clínica, podendo ser feita tomografia e/ou ressonância para definir o tratamento, ou seja, é um caso de estudo”, explica.
Wendel destacou que a síndrome de Tourette não apresenta resultados dos exames, mas pode ajudá-lo a identificar outras enfermidades associadas a ela.
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O médico também frisou que a causa do Tourette é desconhecida e pode ocorrer com qualquer idade.
“A partir disso, tem psicólogo, fisioterapia e tratamento com médicos, apenas para diminuir estresse ou ansiedade do paciente”, complementa.
Constrangimento
Além de conviver com os tiques nervosos e vocais, o coiteense relatou que enfrentou diversas situações de constrangimento, sobretudo na vida profissional, na qual é independente.
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“Faço de tudo um pouco. Exerço função de segurança, montagem de parque de diversões, ajudo em bares, carregar caminhão entre outras coisas. Já aconteceu de tentar trabalhar no bar e, enquanto lavava os copos, acabei mordendo e os quebrando. Tem situações também que estou pilotando a moto e de repente dou uns pulos”, relata.
Kainha expressou sua tristeza pelo fato de algumas pessoas não terem compreendido o seu problema, que ainda não foi resolvido.
“ É muito constrangedor, pois as pessoas se assustam, dão gargalhadas e ficam pedindo para eu dar os tiques, como se fosse algo que quero realizar. Alguns levo na tranquilidade mas, é involuntário e maioria não entende”, lamenta.
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O médico Wendel que atua no município convidou Kainha para uma consulta e análise do estado do rapaz, a fim de confirmar a Síndrome de Tourette e fazer o tratamento.
“Ficarei muito feliz se o doutor me ajudar a controlar. Não é simples lidar com algo que não quero fazer”, finaliza Kainha.
Síndrome de Tourette
Síndrome de Tourette é um distúrbio neuropsiquiátrico caracterizado por tiques múltiplos, motores ou vocais, que persistem por mais de um ano e geralmente se instalam na infância.
Na maioria das vezes, os tiques são de tipos diferentes e variam no decorrer de uma semana ou de um mês para outro. Em geral, eles ocorrem em ondas, com frequência e intensidade variáveis, pioram com o estresse, são independentes dos problemas emocionais e podem estar associados a sintomas obsessivo-compulsivos (TOC), ao distúrbio de atenção com hiperatividade (TDAH) e a transtornos de aprendizagem. É possível existirem fatores hereditários comuns a essas três condições. A causa do transtorno ainda é desconhecida.
Em 80% dos casos, os tiques motores são a manifestação inicial da síndrome. Eles incluem piscar, franzir a testa, contrair os músculos da face, balançar a cabeça, contrair em trancos os músculos abdominais ou outros grupos musculares, além de movimentos mais complexos que parecem propositais, como tocar ou bater em objetos próximos.
Tratamento
A síndrome de Tourette é uma desordem que não tem cura, mas pode ser controlada. Estudos clínicos demonstram a utilidade de uma forma de terapia comportamental cognitiva, conhecida como tratamento de reversão de hábitos. Ela se baseia no treinamento dos pacientes para monitorarem as sensações premonitórias e os tiques, para responder a eles com uma reação voluntária fisicamente incompatível com o tique. É importante ressaltar, entretanto, que a eficácia depende de cada caso.
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Medicamentos antipsicóticos têm se mostrado úteis na redução da intensidade dos tiques, quando sua repetição se reverte em prejuízo para a autoestima e aceitação social. Em alguns casos de tiques bem localizados, podem ser tentadas aplicações locais de toxina botulínica (Botox). Alguns autores defendem que, excepcionalmente, pode ser indicado o tratamento cirúrgico com estimulação cerebral profunda, aplicada em certas áreas do cérebro.
Atividades como meditação e ioga podem ser úteis para aliviar o estresse. Esportes, de maneira geral, também podem ajudar tanto ao promover o relaxamento como por sua prática demandar atenção.
Por Rafaela Rodrigues
Informações do site Drauzio Varella