Desde o lançamento da série e filme sobre o Maníaco do Parque, nas plataformas digitais, muitos detalhes vieram à tona quase três décadas depois.
Francisco Assis- Maníaco do Parque
O audiovisual conta a história de vítimas e do próprio Francisco de Assis Pereira, 56, condenado a 286 anos de prisão por estuprar e matar, ao menos, sete mulheres e tentar assassinar outras nove, em 1998, porém, ele confessou 11 assassinatos e 23 ataques. O condenado responde por crimes de estupro, estelionato, atentado violento ao pudor e homicídio.
Entre tantos relatos, uma das evidências que fez a justiça solucionar o caso do Maníaco foi através das mordidas que ele desferiu contra as vítimas.
Há quem pense que é um trabalho simples, mas, em entrevista exclusiva ao Caldeirão do Paulão, o Perito do TJBA e Coordenador do Curso de Especialização em Odontologia Legal da Bahia, Jeidson Moraes, contou que existe uma complexidade no trabalho, citando o Maníaco do Parque e diversos casos ocorridos na Bahia.
Especialista em mordidas criminosas
O profissional estuda as mordidas criminosas há 25 anos e cita que o caso do Maníaco do Parque ilustra de forma nítida o que acontece em crimes sexuais, violência doméstica e interpessoal.
” As mordidas são usadas como instrumento de ataque ou defesa em situações criminais e elas fazem parte de rituais românticos. No entanto, diversas vezes se torna a única evidência que liga uma pessoa à outra e os arcos dentários humanos são únicos, o que leva a um sistema de “carimbo” no corpo de outras pessoas. O psicopata usa mordida como forma de domínio sobre a vítima, ato sádico também. Por isto, casos famosos no mundo envolvem mordidas. Outro elemento importante é que a vítima pode usar a mordida como forma de defesa, causando dor no agressor com a mordida”, explica.
Apesar do caso de Francisco (o Maníaco) ocorrer vários tipos de evidências que se somaram para condenação, Jeidson relatou que a perícia da mordida foi muito relevante e explica como funciona o processo de identificação.
“A coleta de evidências é uma etapa muito importante e inclui fotografia, moldagem dos arcos dentários, análise com softwares para sobreposição de imagens ou tecnologia 3D. A evidência biológica com a saliva do mordedor permite a idênticas pelo DNA também. Este método já resolveu diversos casos pelo mundo, como também o caso do Serial Killer TED BUNDY, no qual, a única evidência que o condenou a perícia da mordida deixada na vítima um método seguro e contribui historicamente com centenas de casos pelo mundo, no entanto, não é toda marca deixada na pele que permite a identificação. Às vezes só é possível excluir autoria. Depende da riqueza de detalhes encontrada na marca e características dos arcos dentários que permitam a confirmação”, informa.
Questionado se a mordida do Maníaco do Parque não tivesse sido periciada, o perito forense foi enfático:
“Creio que a confirmação da autoria poderia demorar mais e poderia não ter informações detalhadas de como ele agia”
E na Bahia?
Durante sua atuação em mais de 50 casos envolvendo mordidas, fora do país, em outros estados, Jeidson relembrou um fato na Bahia que conseguiu solucionar através da perícia na mordida.
“Uma mulher que maltratava a filha bebê, causando mais de 15 mordidas. Quando houve a denúncia ao Conselho Tutelar, pudemos provar que a própria mãe era autora das agressões, diferente do que ela apontava ser de um vizinho”, comenta.